“União 10 de Dezembro não está morto”
O presidente do grupo carnavalesco “União 10 de Dezembro”, Albino Amaral Vidal (Micha) herda a responsabilidade de manter viva a chama do legado do seu pai, o icónico Pedro Vidal, o comandante e fundador. Em entrevista ao portal de notícia, Economia Rural (ER), neste sábado 8 de Março na sede do grupo, no distrito Urbano da Maianga, em Luanda; Albino e companheiros falam sobre os desafios que enfrentam, as tradições que preservam e as mudanças necessárias no grupo.

Ainda na ressaca do Carnaval, a estender-se ao período das mabangas (época de boda entre os membros do grupo), encontramos Micha em sua casa, meio refastelado no Luando, que ao início de conversa destrava da garganta o desabafo: “Eu sou o filho do eterno comandante Vidal, e nas minhas veias corre o sangue do meu pai. Ele pode não estar fisicamente aqui, mas deixou pessoas instruídas para dar continuidade ao grupo. Tudo faremos para manter o grupo vivo e não desanimar o comandante”, assegura.
Albino assume a liderança do grupo há quatro anos, e apesar das dificuldades impostas pela pandemia, diz o entrevistado, o grupo União 10 de Dezembro seguiu sua trajetória, superando obstáculos, permanecendo fiel às suas raízes. “No primeiro ano, participamos do Carnaval live onde conseguimos alcançar o primeiro lugar, mantendo a chama acesa do grupo, já sob o comando do meu irmão Bernardo Luís Vidal”.
Os irmãos Vidal, Albino, o presidente, e Bernardo, o comandante, não buscam apenas conservar o estilo de seu pai, mas também adaptar-se ao novo contexto sem perder a essência. “Quando eu não puder mais continuar com vocês, vocês levarão o grupo”, referiam as palavras do pai, Pedro Vidal, fundador e eterno comandante do grupo.
Bernardo é perentório ao afirmar que hoje o semba varina que dançam, por exemplo, tem mais ritmo, mais cor e é mais vibrante, e não perdeu a essência, explica o comandante, com anuência do presidente que acenava a cabeça.
No entanto, eles reconhecem que o Carnaval, de uma forma geral, precisa de mudanças. “O Carnaval perdeu a alegria, agora é mais uma competição do que uma verdadeira celebração da cultura angolana. O espírito de comunidade e diversão parece ter-se perdido com o passar do tempo, e muitos grupos estão mais focados em garantir uma posição no ranking do que em celebrar nossa cultura com autenticidade”, revelam ao ER.
O comandante não esconde suas críticas ao sistema organizacional e a classe do jurado do Carnaval. “É possível que haja corrupção. Em três anos consecutivos, apenas um grupo tem ganhado. Isso não é normal. Por que outros grupos não têm a mesma chance? Algo não está certo,” replicou.
O grupo lamenta também a falta de apoio estrutural por parte das autoridades e das empresas, pois a verba de 3 milhões e quinhentos mil kwanzas para cada grupo, disponibilizada pela Associação Provincial do Carnaval de Luanda, (APROCAL), é irrisória para as exigências actuais do Carnaval. E sendo quase nulo o apoio das administrações municipais, é difícil competir com grupos que têm patrocínios de peso, confessa o comandante e adianta que “este ano, por exemplo, a administração da Maianga nos deu um rolo de tecido de 50 metros, uma caixa de coxas e duas de peixe”, assim, não se faz Carnaval, assevera.
Apesar das dificuldades, Albino, mantém a esperança e a confiança no potencial do grupo. “Nossa força no passado era imensa, e, embora tenhamos perdido alguns membros importantes do grupo, a nossa União se mantém firme. O 10 de Dezembro é uma família, é mais do que um grupo de Carnaval, é uma comunidade de amigos e pessoas dedicadas”, diz orgulhosamente.
Quanto ao desempenho do grupo neste ano, o presidente admite que a vitória não era uma expectativa realista, mas “esperava ficar entre os cinco primeiros classificados, infelizmente ficamos em 7° lugar, classificação não esperada. Não temos as mesmas condições que outros grupos, logo fica difícil competir de igual para igual, mas o Carnaval do Vidal ainda está vivo” garante.
Além disso, lamenta a redução do público nas ruas, que já foi um grande atrativo para o Carnaval. “O número de foliões caiu drasticamente. Antes, tínhamos multidões que nos seguiam, mas hoje isso é quase inexistente”.
Porém, lembra com nostalgia o pai, Pedro Vidal, considerado o melhor comandante de todos os tempos de grupo carnavalesco, com uma colecção individual de 14 distinções de melhor comandante e quatro títulos coletivos no Carnaval de Luanda
Já o grupo que aquele criou, há 45 anos atrás, isto em 1978, o União 10 de Dezembro, tem na sua galeria prémios de vencedor de Carnaval de Luanda nas edições de 1991, 1999,2022, 2006 e 2021 o carnaval life.

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A fraca aderência ao Carnaval deveu-se ao desenvolvimento das tecnologias de informação. Nos últimos anos, as pessoas preferem assistir em casa do que andar na calçada e viver de perto a épica dança carnavalesca.
Infelizmente é o cenário do que se assiste nas TVs e nas redes sociais. Para além, de ver a massa diminuta, também vê-se a pouca criatividade dos artistas envolvidos.
Aqui, concordo do que foi dito pelo o entrevistado que, “o Carnaval perdeu a alegria, agora é mais uma competição do que uma verdadeira celebração da cultura angolana. O espírito de comunidade e diversão parece ter-se perdido com o passar do tempo, e muitos grupos estão mais focados em garantir uma posição no ranking do que em celebrar nossa cultura com autenticidade”.
O pensar de antemão no pão, faz dos criadores dos estilos fracassados. Mas também não se pode investir e não haver colheita.
Em suma, viva o 10 de Dezembro pela resistência e permanência.
“União 10 de Dezembro nao está morto”